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Novo presidente da APM fala sobre associativismo



José Luiz Gomes do Amaral graduou-se pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) e especializou-se em Anestesiologia e Medicina Intensiva. Dedicado à carreira universitária, é Professor Titular da Disciplina de Anestesiologia, Dor e Terapia Intensiva do Departamento de Cirurgia da EPM/Unifesp. É o atual presidente da Associação Paulista de Medicina e da Academia de Medicina de São Paulo. Entre diversos outros cargos, já foi conselheiro do Cremesp, presidente da Associação Médica Brasileira e da Associação Médica Mundial. É membro da Academia Nacional de Medicina.


O que significa o associativismo para os médicos?


Associativismo expressa a reunião de pessoas com o objetivo de defender seus interesses comuns. Em nosso caso, quais seriam essas áreas de interesse comum? O desenvolvimento técnico-científico da Medicina, o exercício da profissão médica e defender sua valorização, seja do ponto de vista financeiro, seja seu reconhecimento. O interesse do associativismo médico transcende o segmento dos profissionais da área, mas se estende a toda sociedade, visto que a saúde das populações e o bem-estar das pessoas são a razão de existirmos enquanto médicos.


A Associação Paulista de Medicina, entidade abrangente que abriga todas as áreas da Medicina, tem significado ainda maior visto que explora as interfaces das especialidades e sua integração. A APM tem também buscado prover ferramentas essenciais para que o médico possa acompanhar a rápida evolução do conhecimento científico e incorporar novas tecnologias com eficiência e segurança.


As transformações vertiginosas que assistimos no mundo moderno, mais do que nunca afetam a estrutura de organização do trabalho médico. Isso requer uma adaptação contínua da formação profissional e, aqui, o apoio de sua associação médica.


Como ex-presidente da Associação Médica Mundial (WMA), como vê o papel do associativismo brasileiro globalmente?


A Associação Médica Mundial (WMA) congrega 114 associações médicas de diversos países, localizados em todos os continentes. Encontra-se imensa diversidade ao observar atentamente o que se passa nas várias filiadas da WMA. Há muito em comum com relação à Medicina praticada em cada um dos países, porém, também existem peculiaridades dignas de nota e que devem ser consideradas. Do ponto de vista da adaptação da atividade médica às necessidades e expectativas locais, pode-se dizer que o Brasil desfruta de situação privilegiada. O associativismo médico desenvolvido no Brasil poderia ser considerado modelo para vários outros países. Entretanto, há vários lugares do mundo com estruturas associativas mais sólidas e mais consistentes do que a nossa, e essas bem poderiam também nos servir de modelo. Nem sempre se pode transportar a realidade de um país para outro, mas muito se pode aprender com sucessos e insucessos dos pares. Poderíamos trabalhar de sorte a evitar o isolamento associado à fragmentação da atividade médica e o isolamento que daí decorre, como ilustra o distanciamento das organizações de representação médica como conselhos, associações, sindicatos, sociedades de especialidades e assim por diante.


Crê que a saúde pública e suplementar do Brasil tirarão lições da pandemia para ajustes em qualidade?


No Brasil vivemos uma conjuntura trágica de eventos na qual, em um momento de grande turbulência política e grave crise econômica, somos atingidos por um desastre sanitário de proporções inauditas. A pandemia COVID-19 tem esgotado o nosso já deficiente sistema de saúde e acentuado cada vez mais as disparidades sociais. O acesso à saúde é cada vez mais distante para um número cada vez maior de pessoas. Doenças que já enfrentávamos antes da pandemia foram deixadas em segundo plano. Negligenciá-las significa permitir que se agravem.


Antevemos para 2021 a solução da Covid-19, seja em função das perspectivas que se abrem com a vacinação, ou com eventuais progressos no tratamento da doença. No entanto, teremos que enfrentar uma crise social de proporções inimagináveis, cuja solução nos demandará um longo tempo.


Por outro lado, as oportunidades que esta crise nos abre também são muitas. Nunca vimos tamanha celeridade no desenvolvimento científico. Nunca vimos, por exemplo, vacinas serem desenvolvidas com tanta rapidez, publicações ou estudos serem elaborados, aplicados e produzirem resultados tão depressa. Aquilo que até ontem exigia anos de preparo e estudo, hoje é feito em semanas, meses.


Os obstáculos são muitos, mas as demonstrações de que podemos contorná-los também não têm sido poucas. E são mais que suficientes para preservarmos o ânimo, na certeza de que superaremos estes dias tão difíceis.

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