Ao menos uma vez na vida, 50% das mulheres sofrerão com infecção do trato urinário (ITU). Dessas, 25% terão o problema de maneira recorrente, isto é, ao menos três vezes ao ano. A enfermidade atinge principalmente a bexiga, mas pode acometer também os rins.
“A infecção do trato urinário é bastante frequente na mulher e isso se deve a fatores anatômicos do corpo feminino, como a uretra curta e a proximidade com a vagina e o ânus”, esclarece o ginecologista Jorge Milhem Haddad, chefe do Setor de Uroginecologia e Assoalho Pélvico da Disciplina de Ginecologia HCFMUSP, presidente da Sociedade Brasileira de Uroginecologia e Assoalho Pélvico, representante latino-americano da Associação Internacional de Uroginecologia e membro da SOGESP (Associação de Ginecologia e Obstetrícia de São Paulo).
Alguns fatores favorecem o surgimento da infecção, como beber pouca água, segurar a urina, não esvaziar a bexiga antes e depois da relação sexual, incontinência urinária, aumento do volume residual (prolapso genital) e o desequilíbrio da flora vaginal. Este último, comum na atrofia vaginal em mulheres na pós-menopausa, favorece a proliferação bacteriana na vagina pela diminuição dos Bacilos de Doderlein - bactérias importantes no equilíbrio vaginal.
“Na realidade, a causa é, normalmente, a subida da bactéria pela uretra até a bexiga ou os rins. Deve-se ressaltar que na grande maioria das vezes são bactérias intestinais”, explica Haddad.
Entre os sintomas mais comuns, ele destaca o desconforto e o ardor ao urinar, a frequência urinária, a dor suprapúbica e a urgência miccional.
“Devemos lembrar que existem casos da infecção que não apresentam sintomas e que não devem ser tratados a não ser em gestantes ou em pacientes com baixa imunidade”, ressalta.
Quando a infecção ocorre pela primeira vez, o tratamento pode ser realizado baseado apenas na queixa clínica. Mas, se for recorrente, o médico deve solicitar exames de urina específicos e, em alguns casos, ultrassonografia de vias urinárias.
“O tratamento do episódio agudo deve ser com antibiótico em dose única ou de curta duração para diminuir a chance de resistência bacteriana e efeitos colaterais de uma intervenção de longa duração”, pontua o ginecologista.
Já para os episódios recorrentes, recomenda-se o tratamento da ITU aguda da mesma forma seguindo sempre o antibiograma e também, tratamento profilático para diminuição dos episódios de infecção. Para a profilaxia, as recomendações são: diminuir os fatores de risco citados quando possível, o uso de estrógeno local em mulheres na pós-menopausa e a imunoterapia por via oral.
Se não houver uma diminuição dos episódios com estas medidas, pode-se recomendar a terapia com antibióticos diária em sudoses por seis meses.
Além do comprometimento da qualidade de vida, a infecção urinária dificulta até mesmo o relacionamento do casal. A doença pode ainda acometer até os rins e causar pielonefrites e, em casos raros, septicemia (infecção generalizada).
Haddad ressalta que o problema pode interferir até na vida sexual da paciente.
“Atrapalha pelo desconforto em ter relações sexuais durante a ITU e, também por poder existir uma relação entre a atividade sexual com o aparecimento da infecção. Nestas condições, pode-se até mesmo tratar com profilaxia antibiótica depois da atividade sexual”, finaliza.