Vivemos dias difíceis, extremamente difíceis no Brasil. A corrupção e a falta de valores teceram intricadas redes em nossas instituições, ameaçando solapá-las, transformando o País em terra de ninguém. Ou melhor, em terra de uma horda infiltrada em partidos diversos, governos, entidades, órgãos gestores, empresas e por aí vai.
Resistimos, é verdade. Cidadãos de bem, de caráter, lisos e de sonhos límpidos seguimos remando contra essa maré. Venceremos e reconstruiremos a Nação, não tenho dúvida. No entanto, a fatura a pagar já é altíssima.
Na medicina e na saúde, os estragos deixados por décadas de desatinos e pela roubalheira generalizada intensificada nos últimos anos são quase que imensuráveis. Basta entrar em um posto de saúde de qualquer cidade ou região ou ainda em um hospital público para ver crianças, idosos, gestantes, enfim, cidadãos, sofrendo sem acesso à atenção em todos os níveis, com a carência de profissionais, falta de medicamentos, de leitos. É o reflexo do subfinanciamento do setor e da gestão desqualificada.
O dinheiro público vazou em negociatas. Os investimentos em saúde estão congelados por 20 anos. A situação é crítica. Mas a sociedade segue vigilante e em busca de dias melhores. Crê, trabalha e exige mudanças imediatamente.
Em nosso meio, entre os médicos, o clamor é o mesmo. Queremos mudanças profundas já para o Brasil. Porém, também há um clamor para que a nossa própria casa seja arrumada. É a tal história do exemplo pelas ações. Fazendo a coisa certa, mais autoridade teremos para cobrar ações corretas.
No Estado de São Paulo vemos um bom exemplo de como agir de forma proba e afinada com as demandas dos médicos. A Associação Paulista de Medicina, o Cremesp, o Simesp, a Academia e as sociedades de especialidades buscam sempre caminhar de braços dados em prol da valorização dos profissionais de medicina e da qualificação da assistência de saúde à população.
Essa coesão, obviamente, se faz em cima de pontos comuns, pois como ocorre em quaisquer grupos, até em nossas famílias, nem sempre comungamos todos dos mesmos pensamentos. O que importa é o respeito às diferenças, a tentativa de entendimento e a compreensão de que as concordâncias valem muito mais de que eventuais divergências, podendo-nos levar longe se trabalharmos com sabedoria.
Entendo que é assim, agregando todas as forças, criando uma nova ordem em que a transparência e a honestidade sejam a base de nossos planos, estratégias e ações que teremos maior possibilidade de elevar o movimento médico e de colocá-lo como um exemplo a ser trilhado por outros setores da sociedade. Afinal, é o que almejamos também para o Brasil, respeito, tolerância, transparência e honestidade.
Roberto Lotfi, 1 vice-presidente da APM e conselheiro do Cremesp