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O olhar cuidadoso salva vidas


É de se lamentar que até hoje vários médicos ainda não pautem sua atuação no humanismo. A situação, aliás, só tem piorado, pois muitos, por absoluta falta de preparação acadêmica, abusam dos avanços tecnológicos, solicitam exames desnecessários e em excesso, sem falar que maculam a própria autonomia (e a imagem da classe) em acordos escusos com laboratórios.

Assim, os sistemas de saúde, público e suplementar, veem vazar pelo ralo investimentos importantes. Ao fechar as contas, acaba faltando dinheiro para resolver questões urgentes da assistência em saúde, especialmente em relação às populações mais vulneráveis.

Em pleno século XXI, há os que olhem somente para doença, esquecendo-se de que a razão da medicina é o doente, o ser humano. Quase já dá para contar nos dedos os profissionais que realizam uma consulta completa e competente, abrangendo a coleta do histórico do paciente, exame clínico completo, indicação detalhada de exames complementares, se preciso, e orientações terapêuticas, por exemplo.

Atendimentos que não duram mais do que 10 minutos são a regra atual, despropósito que resulta em erro no diagnóstico e na prescrição, no agravamento de diversos quadros e em custo milionário para a rede de saúde.

É de fundamental relevância ter sempre em mente que o paciente carrega consigo história, cultura e essência. Nasce, a partir daí, uma das tarefas primordiais do profissional médico: a descoberta e o conhecimento da pessoa por trás da enfermidade.

Humanizar a medicina é, portanto, desafio e obrigação para todos que têm um olhar cuidadoso para o outro e para a verdadeira missão dos agentes de saúde. Os médicos precisam resgatar a base da medicina clássica, do olho no olho e da personalização de cada atendimento.

Não é necessário abrir mão dos recursos tecnológicos, pois há avanços necessários, mas é essencial usá-los com responsabilidade, pautado em princípios básicos e tradicionais.

Falta-nos também incentivo à formação global, baseada na conduta humanística e no estímulo a atuação à beira leito. Uma formação que carece desses princípios é ameaça toda a população. Já quando o tema é gestão, é imprescindível compromisso, responsabilidade, em especial diante do sucateamento dos hospitais e da carência de recursos.

A medicina é uma atividade cujos alicerces encontram-se na arte de cuidar do próximo, atentando-se aos seus anseios e aos seus temores. Encontramos as pessoas em seus momentos mais vulneráveis e temos, depositada em nós, a esperança de dias melhores. Assim, precisamos trabalhar para não só atender esta expectativa, mas superá-la.

Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica


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