O diretor da Cochrane Brasil ressalta a necessidade um canal de atendimento a outras doenças que não a COVID-19 durante pandemia
Enquanto a demanda por leitos hospitalares para COVID-19 cresce no país, outras doenças ficam em segundo plano. No Brasil, a procura por serviços na área de oncologia caiu em 70%. No caso do AVC, houve queda de mais de 60% dos atendimentos globais. Já os tratamentos para diabetes, muito frequente na população e causa de sérias complicações, foram, em grande parte, abandonados.
A pandemia resultou no isolamento e distanciamento social, com a suspensão de cirurgias eletivas para não sobrecarregar o sistema de saúde. No entanto, a assistência a doenças crônicas e àquelas que precisam de atendimento urgente mantiveram-se ativas, ainda que em modelos adaptados. O problema é que muitas pessoas se recusam a frequentar hospitais e centros de saúde com medo do novo coronavírus.
"Se você tem uma doença e não realiza ou interrompe o tratamento, ela pode progredir e causar complicações ainda maiores", alerta dr. Álvaro Atallah, nefrologista, clínico e diretor da Colaboração Cochrane do Brasil. Ele chama a atenção principalmente para pacientes com câncer, doenças cardíacas e diversas doenças crônicas. De acordo com o especialista, os exames preventivos, controles, tratamentos e atendimentos de urgência não podem ser deixados de lado por conta da COVID-19.
Por outro lado, dr. Atallah opina que não é só responsabilidade do paciente saber quando e se ele tem que ir ao hospital, ainda mais quando há certo temor em se contaminar. Para ele, é dever também dos centros médicos comunicar e manter contato com a população para garantir os atendimentos no tempo certo.
Canal direto entre médicos e pacientes
O médico aposta em uma relação mais integrada entre os serviços de saúde e a sociedade. "É preciso haver uma central que atenda as pessoas e distribua os casos para os ambulatórios específicos, como pré-natal, hipertensão arterial, doenças renais, oncologia, endocrinologia ou o que for mais adequado", pontua.
Uma linha de contato direta pode ajudar a tirar as dúvidas sem sobrecarregar os hospitais, mantendo a qualidade da assistência. Pacientes de câncer e doenças crônicas, por exemplo, são ainda mais vulneráveis à COVID-19 quando não recebem o tratamento necessário. No caso das urgências, correm risco de vida se não forem atendidos com rapidez. Já outras doenças, como gastrite ou hérnia simples, não precisam dessa pressa.
"Há que haver uma triagem por profissionais experientes da saúde para marcar consultas e retornos", afirma dr. Atallah. Rotas separadas também são uma opção: enquanto os pacientes suspeitos de COVID-19 são atendidos em determinada área do hospital, o restante da população circula em outra. "O medo de buscar ajuda pode resultar na perda da possibilidade de recuperação e no desenvolvimento de sequelas para o resto da vida, dependendo do caso", alerta.
"É preciso que as pessoas não percam a prática das consultas, mesmo que a distância, por telefone, telemedicina ou redes sociais. O importante é que haja um contato fácil entre os pacientes e seus médicos ou profissionais de saúde. As consultas devem ser feitas com horário marcado em locais adequados e seguros. E é necessária pontualidade de ambas as partes, para se evitar aglomerações”, finaliza.
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