O Ministério da Saúde anunciou, dias atrás, que credenciará 57 mil novos serviços e equipes na Atenção Primária. A meta é ampliar serviços e atendimentos a 3,8 mil municípios, aumentando a abrangência do cuidado para mais de 33,8 milhões de brasileiros.
Caso as intenções se transformem em ações concretas, será extremamente positivo em termos de políticas públicas. A inclusão no campo da saúde se faz urgente, em especial tendo em vista que o Brasil amarga um processo de empobrecimento extremo da população em anos recentes por motivos diversos, que todos bem sabemos, entre os quais está a pandemia de Covid-19.
É mister a construção de um estado-cidadão que encare investimentos sociais como bônus e não como ônus. Grande parte das mazelas que enfrentamos hoje vem do descaso no trato da coisa pública e do descompromisso em proporcionar às camadas mais vulneráveis condições dignas de subsistência, qualidade de vida e horizonte de progresso.
A 12ª edição do “Boletim Desigualdade nas Metrópoles”, produzido em parceria entre o PUCRS Data Social, o Observatório das Metrópoles e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL), registra que a razão de rendimentos entre os 10% mais ricos e os 40% mais pobres, um dos indicadores de desigualdade, alcançou 31,2, no 4º trimestre de 2022. Ou seja: os 10% mais ricos ganhavam, em média, 31,2 vezes mais que os 40% mais pobres. Uma vergonhosa razão que cresceu ao longo de todo o ano de 2022.
Nem aqui nem em qualquer outro lugar do mundo veremos uma nação virar expoente com uma população sem trabalho, sem acesso à saúde, à educação, à moradia, à cultura e por aí vai. Fazer do Brasil um país pujante de fato, não somente no discurso, requer responsabilidade, probidade, competência e humanidade – ou seja, respeito e amor ao próximo. É essencial igualmente trato adequado da coisa pública e políticas estruturais para reduzir a violência, a criminalidade, garantir segurança nas escolas, nas ruas.
Para vencer essa gama de desafios, é indispensável ter caixa, destinação orçamentária em níveis relevantes. Na saúde, por exemplo, carecemos de R$ 1,6 bilhão para zerar a fila represada do Sistema Único de Saúde (SUS).
Diante de situação tão complexa e de tantas injustiças, vejo como hipocrisia os arroubos raivosos contra a taxação de produtos importados de sites/empresas que não pagam impostos no Brasil.
Não podemos compactuar com práticas de contrabando, de sonegação, elas são crimes e trazem graves consequências. Criam concorrência desleal, levam à quebradeira de negócios nacionais com consequente aumento do desemprego, da miséria, do sucateamento da saúde etc.
Os brasileiros – todos – temos de ser sérios para ter autoridade de cobrar do Estado. Ou o que está péssimo piorará muito mais.
Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica
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