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Doenças fetais na gestação: diagnóstico precoce pode salvar seu bebê




As doenças da formação fetal são anormalidades morfológicas identificadas ainda durante a gravidez. Elas acontecem em consequência de processos anormais de desenvolvimento e podem trazer importantes prejuízos ao bebê, como problemas de crescimento e alterações no sistema nervoso central. Existem condições que até terminam em óbito fetal.

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) estima que, a cada ano, cerca de 8 milhões de bebês no mundo nasçam com malformações congênitas. Deles, aproximadamente 3 milhões morrem antes de completar cinco anos de idade.

No Brasil, a malformação fetal é a segunda principal causa de morte de bebês e crianças, ficando atrás apenas da prematuridade. Embora os números sejam assustadores, com o avanço da ciência e tecnologia, as chances de identificar e tratar essas doenças são consideráveis.

Prevenção e identificação

Um pré-natal cuidadoso, com acompanhamento adequado e muita atenção aos sintomas é indispensável, assim como a ultrassonografia, ferramenta capaz de diagnosticar precocemente as doenças fetais.

O uso correto do ultrassom, com especialista capacitado, possibilita detectar de 70% a 80% destas condições, e em tempo hábil permite recorrer a tratamentos, como a intervenção cirúrgica ainda no útero, com vistas a evitar o desenvolvimento de eventual doença fetal.

Aliás, são diversos os tipos de malformação fetal catalogados pela ciência. Muitas delas já podem ser tratadas durante a gestação, por meio da intervenção no (s) feto (s). Por exemplo, a mielomeningocele; a síndrome da transfusão teto-fetal; a hérnia diafragmática congênita; derrame pleural fetal; anemia fetal, entre outras.

Mielomeningocele

A Espinha Bífida Aberta, mais conhecida como mielomeningocele, é a mais comum anomalia congênita do sistema nervoso central. No Brasil, há uma incidência aproximada de 1/1000 nascidos vivos. É causa de paralisia dos membros inferiores, atraso no desenvolvimento intelectual, alterações intestinais, urinárias e ortopédicas.

Até há poucos anos, a correção da espinha bífida só era feita após o nascimento. Cerca de 80% dos bebês operados necessitavam da colocação de drenos no cérebro e grande parte deles passava por cirurgias repetidas, o que redundava em progressiva redução da capacidade intelectual e altas taxas de óbito: 15% até o quinto ano de vida.

Brasil é referência mundial na intervenção

Em 2011, resultados de trabalho científico elaborado nos EUA, denominado de MOMs trial - Management of Myelomeningocele study, demonstraram que os bebês com espinha bífida poderiam ser tratados ainda no útero por cirurgia aberta. Isso com significativo aumento na chance de andar, melhora no desenvolvimento intelectual e menor necessidade de colocação de drenos cerebrais após o nascimento.

Desde então, o tratamento intrauterino por cirurgia aberta no útero tem sido o ideal para fetos com mielomeningocele. Porém, nem todos os bebês podem ser operados durante a gestação. Existem indicações específicas. Por exemplo, a idade gestacional entre 19 e 26 semanas.

No Brasil, o grupo de cirurgia fetal do Centro de Medicina Fetal Gestar e da Rede Gestar de Medicina Materno-Fetal, coordenado pelo Dr. Fábio Peralta, é referência na utilização de técnica semelhante à descrita pelo MOMS trial, mas aprimorada, de forma a diminuir os riscos maternos e o parto prematuro.

A técnica tradicional consiste em uma cirurgia aberta com uma incisão no útero de 6-8 cm de extensão. Já a técnica da Gestar, modificada e publicada internacionalmente, reduz a extensão da incisão uterina para 2,5 cm, o que consequentemente diminui os riscos maternos da cirurgia, mantendo os benefícios para o feto.

Síndrome de Transfusão Feto-Fetal

A Síndrome de Transfusão Feto Fetal (STFF) é uma doença que ocorre em 10 a 15% das gestações gemelares em que os gêmeos são idênticos e compartilham a mesma placenta. No caso, por a placenta ser compartilhada entre os fetos, o sangue passa desproporcionalmente de um para o outro. Dessa forma, um dos bebês acaba sendo o “receptor” e o outro o “doador”.

Em aproximadamente 30% dos casos, a condição é grave, com risco de óbito (entre 90 a 100%) de um ou ambos os fetos se nada for feito. Quando ocorre a perda de um dos fetos por causa da STFF e o outro sobrevive, o risco de lesão no cérebro do bebê sobrevivente é altíssimo (de 50 a 100%).

A única forma de tratamento conhecida é a cirurgia de ablação (cauterização) com laser dos vasos placentários. Já foi realizada em milhares de pacientes em todo o mundo, com excelentes resultados e pouquíssimas complicações maternas.

É uma cirurgia pequena, feita com anestesia raquidiana (a mesma usada para cesariana), que dura mais ou menos 60 minutos, na qual cauterizamos com o uso do laser os vasos que comunicam os dois fetos na superfície da placenta e que estão causando a doença STFF.

Para isso, a mãe deve ficar internada por 1 dia, tomando medicação para inibir trabalho de parto e antibiótico para prevenir infecção. Depois disso, a gestante recebe alta e deve ser reavaliada com ultrassom de 15 em 15 dias até o nascimento do(s) bebê(s).

Quando o procedimento de cauterização dos vasos placentários é feito, a chance de pelo menos um dos fetos sobreviver é de cerca de 80%, com risco de dano neurológico nos sobreviventes menor do que 7%.

Prevenção da malformação congênita

A origem de uma malformação congênita pode ser genética, infecciosa, ambiental ou nutricional, mas em muitos casos não é possível identificar sua causa.

A causa pode estar associada a agentes infecciosos (vírus da rubéola, vírus do HIV, etc) ou outros fatores que aumentam as chances de desencadear uma doença congênita, como o uso de drogas, consumo de bebidas alcoólicas ou cigarro durante a gestação; obesidade e ou diabetes não controlados; uso de medicamentos contra-indicados no período gestacional e histórico familiar de malformação fetal.

Neste sentido, é possível realizar a prevenção de algumas malformações com medidas básicas de saúde, como a vacinação de meninas contra rubéola (previne a síndrome da rubéola congênita), a fortificação de alimentos com ácido fólico e vitamina B-12 (para evitar a ocorrência de defeitos do tubo neural, como, espinha bífida e anencefalia) e zerar o consumo de álcool e nicotina.

E, claro, uma assistência pré-natal adequada e a realização de exames de rotina são essenciais. Isso porque, mesmo que não seja possível prevenir o surgimento de algumas malformações fetais, com a identificação precoce podemos evitar ou minimizar muitas das suas consequências.

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