Valter Casarin*
A carga de pressão que é colocada sobre os fertilizantes minerais, principalmente por tratar esses insumos como um poluente ambiental e prejudicial a saúde, é muito alta. Isso acontece, em grande parte, devido ao desconhecimento da origem e função que os fertilizantes apresentam na agricultura. Vale ressaltar que os fertilizantes não são produtos tóxicos, mas fonte nutricional para as plantas. Os nutrientes que os fertilizantes têm em sua composição são aqueles essenciais para que os vegetais completem seu ciclo de vida, ou seja, produzam grãos, frutos e outros produtos usados como alimento animal e humano. São esses nutrientes que irão nutrir os animais e o ser humano, permitindo que estes possam ter energia para suas inúmeras atividades.
Os fertilizantes minerais são produzidos a partir de depósitos de minerais que ocorrem na natureza ou extraídos do ar que respiramos. Essas matérias primas são processadas na indústria para tornar os nutrientes apropriados para sua utilização pelas plantas e reduzir o custo de transporte a aplicação no campo. Mas, suas composições continuam sendo de moléculas naturais, e não artificiais.
Para o entendimento correto sobre os fertilizantes, a iniciativa Nutrientes para a Vida tem como principal missão esclarecer e informar a sociedade brasileira, com base em estudos científicos, sobre a importância e os benefícios dos fertilizantes na produção e qualidade dos alimentos, bem como sobre sua utilização adequada. Diante disso, os esclarecimentos sobre a importância e a relação dos fertilizantes com o ambiente e a saúde humana é de grande importância. Neste artigo vamos discutir principalmente sobre os fertilizantes minerais.
Atualmente, a proteção ambiental e a segurança alimentar são duas grandes preocupações da nossa sociedade. É de conhecimento que o uso descuidado de fertilizantes pode ter impacto no meio ambiente. A adubação com critérios e baseada em manejo responsável tem efeitos positivos sobre o meio ambiente, a qualidade dos produtos agrícolas e contribui para o fornecimento de uma dieta variada, saudável e equilibrada.
A agricultura usa energia solar para produzir plantas e fixar dióxido de carbono (CO2), o principal responsável pelo efeito estufa. As plantas formam a base dos alimentos, uma fonte de energia para humanos e animais. Elas também fornecem biomassa, uma fonte de energia térmica, biocombustíveis ou materiais ou fibras de recursos renováveis. A adubação permite produzir mais biomassa e fixar mais energia solar e CO2 por hectare. Seu saldo de uso é claramente positivo; a quantidade de gases de efeito estufa fixada é igual a cinco vezes a emitida pela produção.
A adubação inclui todas as técnicas relacionadas ao fornecimento de materiais destinados a manter ou aumentar a fertilidade do solo. Os fertilizantes são destinados a melhorar a nutrição das culturas. Eles possuem os nutrientes essenciais para as plantas: macronutrientes primários (nitrogênio, fósforo, potássio), macronutrientes secundários (enxofre, magnésio, cálcio), e os micronutrientes (boro, cloro, cobre, ferro, manganês, molibdênio, níquel, zinco). O fertilizante é corretamente chamado de adubo mineral.
O objetivo principal da fertilização mineral é fornecer os nutrientes necessários a um solo incapaz de garantir por si só uma nutrição da planta, levando a um ótimo rendimento. Trata-se de corrigir o desequilíbrio nutricional que resultaria de um solo pobre em certos elementos.
Na maioria dos solos pobres, a quantidade ideal de fertilizante a ser adicionada a uma safra é geralmente maior que a quantidade "exportada" pela colheita (quantidade de elementos minerais contidos nas plantas colhidas) ou perdida pela lixiviação. Essas práticas de suprimento gradualmente levam as reservas de solo a um nível mais satisfatório, a partir do qual o agricultor pode adotar adubação de manutenção, que compensará o desaparecimento dos nutrientes exportados pelas colheitas, imobilizados por fixação ou eliminado pela lixiviação.
O desafio de aumentar a produção de alimentos de forma economicamente viável, mantendo a integridade ecológica dos sistemas, dos quais depende a agricultura, é a base fundamental da agricultura sustentável. Futuros aumentos na produção de alimentos terão que ocorrer concomitante com a expansão limitada de terra, e isto só poderá ser realizado por meio da intensificação da produção sustentável de culturas. Entende-se isto como o aumento da produção total agrícola em uma mesma unidade de área ou, ainda, a manutenção da produção com uso racional de insumos.
As plantas deixam raízes, caules e folhas no solo após a colheita. Esses materiais são fonte de matéria orgânica para os organismos vivos do solo que se alimentam deles. A matéria orgânica é parcialmente decomposta e depois mineralizada, enquanto a outra parte é transformada em húmus estável, um constituinte importante da fertilidade do solo. Matéria orgânica é alimento para a vida do solo. Promove uma estrutura irregular e arejada e aumenta a reserva de água útil. Finalmente, a matéria orgânica aumenta a capacidade de um solo de armazenar reversivelmente elementos minerais trocáveis, em particular cátions, melhorando o armazenamento de nutrientes como cálcio, potássio e magnésio.
Os fertilizantes minerais causam uma redução no estoque de matéria orgânica do solo? É um equívoco comum que se confunde com o papel do sistema de cultivo. Um sistema que não devolve matéria orgânica suficiente ao solo a partir da fotossíntese leva a uma diminuição no estoque de matéria orgânica. Os fertilizantes ajudam a aumentar a produção das plantas, mas uma quantidade suficiente de resíduo deve ser deixada no solo para nutrir a vida do solo. Assim, nas sucessões e rotações de culturas a quantidade de matéria orgânica pode aumentar ao longo das safras, mesmo com fertilização exclusivamente mineral.
A população mundial continuará a crescer e deverá exceder 9,6 bilhões de pessoas em 2050 (ONU, 2013). Se considerarmos que as terras agrícolas são limitadas e estão ameaçadas pela expansão urbana, o aumento da produtividade é o primeiro fator a reduzir a fome e a pobreza no mundo.
A segurança alimentar é definida por uma quantidade suficiente de alimentos, segura e nutritiva suficiente para uma vida saudável e ativa (FAO, 2009). A adubação faz parte dos dois desafios de quantidade e qualidade dos alimentos.
Nos últimos cinquenta anos, a população mais que dobrou e a produção de cereais triplicou para 2,5 bilhões de toneladas (FAO, 2016). Sem o uso de fertilizantes nitrogenados, a colheita global alcançaria apenas 50% desse nível. O raciocínio da fertilização visa aproveitar o progresso contínuo trazido pelo aprimoramento das variedades, enfatizando a eficiência de todos os insumos nutricionais.
A adubação está relacionada, além dos nutrientes essenciais para as plantas, com o valor nutricional dos alimentos para humanos e animais. Os fertilizantes fornecem nutrientes, além das quantidades naturalmente liberadas pelo solo e pela mineralização dos resíduos orgânicos.
Uma nutrição equilibrada da planta em todos os elementos minerais produz alimentos de bom valor nutricional e alta qualidade organoléptica. A simples deficiência de em um dos nutrientes pode resultar em baixa qualidade e redução no rendimento. Sintomas de deficiência revelam os distúrbios fisiológicos sofridos pelas plantas, ocasionando, em muitos casos, sintomas de doenças. Em muitos casos, os produtos agrícolas de culturas deficientes não são comercializáveis, provocando grande desperdício.
A qualidade é avaliada de acordo com critérios subjetivos: cor, consistência, sabor, aroma. Também por critérios objetivos, que se relacionam com a qualidade tecnológica, o valor nutricional do alimento como açúcar, proteínas e óleos.
A adição de nitrogênio aumenta a quantidade e o teor de proteínas nos cereais. O enxofre também é usado na composição de três aminoácidos essenciais que desempenham um papel na síntese e conformação de proteínas. No trigo, a composição proteica e seu conteúdo são responsáveis pelo valor do cozimento para a produção de pão.
Cálcio, magnésio e potássio estão presentes em sua forma mineral na planta e também são essenciais para os seres humanos. Nas plantas, elas promovem resistência ao estresse físico (seca, geada, calor, etc.) e aos ataques de certas pragas. O potássio e o magnésio também promovem a transferência e o acúmulo de açúcares para os produtos colhidos (grãos, sementes, frutos). Assim, a fertilização com potássio e magnésio melhora o teor de açúcar e álcool da cana-de-açúcar, o teor de amido das batatas e proteína da soja. Juntamente com o cálcio, também promove a firmeza, o tamanho e a cor das frutas e legumes e confere melhor valor nutricional a esses alimentos, o que contribui para a ingestão diária desses três elementos minerais na dieta dos homens.
A deficiência de micronutrientes como zinco, ferro, antioxidantes como a vitamina C, afetam grande parte da população mundial quando os alimentos não são diversificados o suficiente. A busca por variedades enriquecidas com esses elementos é um caminho para o progresso, mas a adubação com esses elementos também permite uma melhoria rápida e em larga escala na saúde das populações.
Por isso que dizemos que nutrir o solo é o caminho para nutrir as plantas e, assim, nutrir as pessoas. A nutrição de um povo está intimamente relacionada a qualidade nutricional do solo onde elas estão instaladas. Os fertilizantes são o caminho mais barato e eficiente para aumentar o rendimento das culturas. Antes de pensar em alimentar a população, devemos primeiro pensar em alimentar o nosso solo.
Nutrientes para a Vida
A Nutrientes Para Vida (NPV) é uma iniciativa que tem por missão inovadora para informar a população sobre a importância dos nutrientes para as plantas e para os seres humanos. Sua atuação está baseada em informações científicas, de forma a explicar o papel essencial dos fertilizantes na segurança alimentar, tanto na quantidade como na qualidade do alimento produzido. O uso do fertilizante está alicerçado nos aspectos sociais, econômicos e ambientais.
*Valter Casarin, engenheiro agrônomo da iniciativa Nutrientes para a Vida