Considerando que, entre 1990 e 2015, atenção focada nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (MDGs) resultou na melhoria na saúde materna e de crianças recém-nascidas. A razão de mortalidade materna (MMR) global caiu em 44% entre 1990 e 2015; no entanto, apesar do lançamento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (SDGs) em 2015 e atenção contínua, grandes disparidades regionais e de rendimento na MMR persistem variando de 12 mortes por 100.000 nascimentos vivos em regiões com alto rendimento a 546 em algumas partes da África Subsaariana; e o número de mortalidade anual geral permanece inaceitavelmente alto: 289.000 mortes maternas, 2,6 milhões de natimortos, 5,9 milhões de mortes de crianças abaixo de cinco anos de idade –– incluindo 2,7 milhões de mortes de recém-nascidos.
Hemorragia, hipertensão, sepse e parto obstruído contabilizam um grande número de mortes maternas; causas indiretas - condições clínicas que são exacerbadas pela gravidez, como obesidade, diabetes, doença cardiovascular, malária, HIV, etc., também contribuem significativamente e agora contabilizam mais de 28% das mortes maternas ao redor do mundo, e para reduzir ainda mais a mortalidade materna, esforços ampliados para identificar, prevenir e tratar essas condições são necessários.
Obesidade e sobrepeso são problemas progressivos entre mulheres em idade reprodutiva globalmente, com ampla variância regional, variando de aproximadamente 20% no Sul da Ásia a mais de 90% na América do Norte e Central, África do Norte e África Austral e Ásia Ocidental, com uma estimativa de 42 milhões de gravidezes sendo impactadas por sobrepeso ou obesidade materna, o que eleva o risco de hiperglicemia na gravidez (HIP).
Nos países com rendimento baixo e médio, subnutrição materna, baixo peso ao nascer e crescimento retardado, principalmente em meninas, continuam a ser problemas significativos e mulheres com baixo peso ao nascer ou com crescimento retardado possuem um risco maior de diabetes mellitus gestacional (GDM) apesar de peso pré-gravidez normal ou subnormal.
Diabetes mellitus é, agora, um problema global e sério de saúde pública, com prevalência crescente entre todos os grupos de idade e, de acordo com a Federação Internacional de Diabetes, afeta aproximadamente 415 milhões de pessoas globalmente, com projeções para elevação para 642 milhões até 2040; há também um fardo igualmente alto de pré-diabetes - aproximadamente 318 milhões de pessoas, com probabilidade de crescimento para 481 milhões até 2040.
A idade de início de pré-diabetes e diabetes está reduzindo; dessa forma, também afeta pessoas mais jovens em idade reprodutiva; ao mesmo tempo, a faixa de idade de gravidez está aumentando, assim mais mulheres que ficam grávidas possuem fatores de risco que as tornam vulneráveis a HIP; adicionalmente, ambas mulheres com baixo peso ao nascer, e mulheres que possuem sobrepeso ou são obesas, possuem risco elevado de hiperglicemia na gravidez.
Mais de um terço das pessoas com diabetes e a maioria das pessoas com pré-diabetes permanecem sem diagnóstico e desinformadas; principalmente os jovens e as mulheres, já que eles nunca foram testados considerando que erroneamente se acredita que a diabetes afeta apenas os mais velhos.
Hiperglicemia é, agora, uma dos condições clínicas mais comuns observadas durante a gravidez. a Federação Internacional de Diabetes (IDF) estima que 21 milhões de nascimentos vivos - 1 em 6 (16,8%) ocorrem em mulheres com alguma forma de HIP, dos quais 2,5% podem ser devido a diabetes explícito na gravidez. Os outros 14,3% (uma em sete gravidezes) é devido a GDM, uma condição que se desenvolve devido a alterações hormonais da gravidez e se confina à duração da gravidez HIP aumenta significativamente o risco de complicações da gravidez - hipertensão, natimortos, parto prematuro, bebês com idade gestacional grande e pequan, parto obstruído, hemorragia pós-parto, infecções, lesões de nascimento, anomalias congênitas e mortes de recém-nascidos devido a problemas respiratórios, hipoglicemia, etc.
Sem cuidado preventivo, quase metade das mulheres com GDM prosseguem para o desenvolvimento de diabetes tipo 2 e uma proporção significativa desenvolve doença cardiovascular prematura dentro de 10 anos do parto. Crianças nascidas de mulheres com HIP possuem alto risco de posteriormente se tornarem obesas e possuírem início precoce de diabetes tipo 2; desse modo, HIP perpetua o risco de diabetes para a próxima geração.
Abordar nutrição materna, obesidade e HIP ajuda a diminuir morbidade e mortalidade materna e de recém-nascidos ao diminuir o risco de complicações de gravidez, como nascimentos pré-termo, natimortos, anomalias congênitas, e bebês pequenos e grandes, que são problemas críticos para a saúde materna. É também uma oportunidade de quebrar a corrente de transmissão intergeracional de risco de diabetes, doenças cardiovasculares e problemas metabólicos.
Enquanto sobrepeso, obesidade e idade materna crescente indicam um maior risco para HIP, na prática, apenas metade das mulheres com GDM possui esses fatores de risco, o que corrobora o argumento para testar todas as mulheres grávidas quanto a hiperglicemia. A maioria das mulheres diagnosticadas com GDM pode ser adequadamente tratada por monitoramento adequado e nutrição prática e aconselhamento de estilo de vida, mas algumas podem precisar de tratamento médico e consultar cuidados especializados.
Fornecer cuidado de estilo de vida preventivo a mulheres após gravidez com GDM mostrou reduzir seus riscos de diabetes e doença cardiovascular no futuro. Melhorar o aconselhamento pré-concepção de mulheres jovens em idade reprodutiva e casais a nível de comunidade, incluindo avaliação de saúde e aconselhamento de estilo de vida, como aconselhamento prático sobre gerenciamento do peso, nutrição e exercício, pode ajudar mais ainda a reduzir o fardo de complicações de gravidez e intervenções caras no futuro.
Há evidências nos períodos imediato e de longo prazo; benefícios individuais, do sistema de saúde e sociais (de saúde e economia) de testar, diagnosticar e gerenciar GDM e fornecer cuidado preventivo pós-parto, bem como oferecer uma oportunidade de abordar dois componentes importantes do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 3 (saúde materna e de recém-nascidos e NCDs) com uma intervenção abrangente.
O Secretário-Geral das Nações Unidas, em seu relatório sobre a Prevenção e controle de doenças não transmissíveis na Assembleia Geral das Nações Unidas em 19 de maio de 2011 observou que “a prevalência crescente de alta pressão arterial, diabetes e diabetes gestacional está aumentando os resultados adversos na gravidez e saúde materna. Melhorar a saúde e nutrição materna possui um importante papel na redução do desenvolvimento futuro de tais doenças em descendentes”.
A Declaração Política da Reunião de Alto Nível da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre a Prevenção e o Controle de Doenças Não Transmissíveis realizada em Nova York em 19 de setembro de 2011 declara com preocupação, “que a saúde materna e infantil está inextricavelmente ligada a doenças não transmissíveis e seus fatores de risco, especificamente má nutrição e baixo peso ao nascer, que criam uma predisposição a obesidade, pressão arterial alta, doença cardíaca e diabetes em uma idade mais avançada, e que condições de gravidez, como obesidade materna e diabetes gestacional, estão associadas a riscos semelhantes nas mães e em seus filhos” e defende a “inclusão de prevenção de doenças não transmissíveis e controle dentro de programas de saúde materna e de crianças e programas de saúde reprodutiva, principalmente a nível primário de cuidados com a saúde, bem como outros programas que forem apropriados, e também integrar intervenções nessas áreas em programas de prevenção de doenças não transmissíveis”.
Ao longo dos últimos dois anos, líderes e representantes de organizações médicas profissionais, agências de saúde pública, institutos de pesquisa, comunidades afetadas, sociedade civil, indústria privada e governos da Ásia do Sul, Europa, América Latina e Oriente Médio e África do Norte endossaram e apoiaram declarações regionais para aumentar o foco na hiperglicemia na gravidez
A Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) e a Federação Internacional de Diabetes (IDF) emitiu uma declaração e proclamação conjunta em 6 de dezembro de 2017 no Congresso Mundial de Diabetes em Abu Dhabi esboçando o desafio de saúde pública representado pela HIP e pedindo atenção e ação urgente.
Em apoio a e como culminação a esses esforços globais, nós, os participantes do XXII Congresso Mundial de Ginecologia e Obstetrícia da FIGO, realizado no Rio de Janeiro entre 14 e 19 de outubro de 2018, declaramos pelo presente que saúde materna e infantil está inextricavelmente ligada a doenças não transmissíveis e seus fatores de risco, especificamente má nutrição e baixo peso ao nascer, que criam uma predisposição a obesidade, pressão arterial alta, doença cardíaca e diabetes em uma idade mais avançada, e que condições de gravidez, como obesidade materna e diabetes gestacional, estão associadas a riscos semelhantes nas mães e em seus filhos.
Que a gravidez oferece uma oportunidade única de integrar serviços de saúde materna e infantil com promoção da saúde e prevenção de NCD, fornecendo assim uma ponte para criar serviços mais integrados a nível primário de cuidados.
Tal esforço na prevenção e controle de NCD deve, portanto, ser iniciado com foco substancial na saúde pré-concepção e materna.
Que até e a menos que ação urgente seja tomada para abordar sistematicamente o problema de nutrição, sobrepeso e obesidade materna e hiperglicemia na gravidez, há altas chances que os ganhos da última década em saúde materna e de recém-nascidos seja desfeito e que a epidemia em andamento de diabetes e obesidade piore.
Que resolvamos abordar esse desafio e convertê-lo em uma oportunidade para um resultado melhorado de saúde para mães e seus bebês recém-nascidos e estanquemos a curva crescente de NCDs e melhoremos a saúde da população futura.
E concordamos em empreender ações em nossas diversas capacidades individuais e coletivas para apoiar esforços para abordar a ligação entre obesidade e diabetes e saúde materna como uma prioridade de saúde pública
Acelerar a implementação da iniciativa de GDM da FIGO (http://www.ijgo.org/issue/S0020- 7292(15)X0015-4) globalmente; incluindo, entre outras coisas, ao buscar ações de política de apoio e mobilizar recursos para sua implementação e garantir que todas as mulheres grávidas que comparecerem a unidades de saúde sejam testadas quanto a hiperglicemia utilizando um procedimento de etapa única, conforme preconizado pela FIGO.
Apoiar os esforços para aumentar a conscientização pública sobre hiperglicemia na gravidez e seu impacto sobre a saúde materna e infantil, encorajar aconselhamento pré-concepção, cuidado pré-natal e acompanhamento pós-parto.
Encorajar o deslocamento de tarefas e o papel de apoio com base no treinamento para construir uma capacidade para prevenção, diagnóstico precoce e tratamento de HIP e compromisso contínuo com o par de alto risco mãe-filho por um período de tempo prolongado, ligado ao programa de vacinação de crianças ao envolver e colaborar com outros profissionais de cuidados à saúde.
Preconizar o acesso a fornecimentos ininterruptos de diagnóstico, medicamentos e equipe treinada para diagnóstico e gerenciamento apropriado de HIP em todos os níveis de cuidado, mantendo a conveniência da mulher grávida em mente e a custos acessíveis.
Promover e celebrar o Dia Nacional da Conscientização de GDM em nossos países como um instrumento para atrair atenção pública e conscientizar sobre o problema.
Ajudar a desenvolver e realizar uma agenda robusta de pesquisa que alimente a descoberta de novas ferramentas e procedimentos para melhorar o diagnóstico, monitoramento e gerenciamento de HIP de locais de atendimento, e a capacidade de engajar, aconselhar e rastrear o par mãe-filho a longo prazo; bem como realizar pesquisa operacional para melhorar a colaboração e a eficácia de programas existentes, tendo em mente as realidades de fornecimento de cuidados à saúde em diferentes partes do mundo.