Não é raro vermos a difusão de mitos sobre a utilização de fertilizantes. Talvez por falta de uma campanha de conscientização, da carência de boas informações, há ainda quem lhes dê menor importância nos processos de aumento da produção sustentável e a segurança alimentar.
Pior ainda é quando são veiculadas notícias equivocadas ou incompletas a respeito da natureza dos fertilizantes, com risco potencial de alarmar desnecessariamente o público leigo.
Os fertilizantes (ou adubos), sejam orgânicos ou minerais, são sim fontes de nutrientes para as plantas e, por extensão para os animais, seres humanos incluídos. Esses nutrientes são componentes essenciais dos vegetais, ou seja, sem eles as plantas não completam seus ciclos.
O mesmo se aplica aos animais; o nitrogênio (N) é parte das moléculas de proteínas dos nossos músculos, o fósforo (P) está presente nos nossos ossos e o potássio (K) e um íon que controla diversas reações enzimáticas no nosso organismo. E por aí vai.
A composição dos nutrientes liberados no solo por adubos orgânicos ou minerais é exatamente a mesma e ambos os adubos têm a mesma função. A diferença é que os adubos orgânicos reciclam os nutrientes presentes nos resíduos que os geraram, ao passo que os adubos minerais, mais concentrados, repõem os nutrientes ao solo quando a reciclagem é cara ou inviável.
Imagine quanto nutriente é subtraído do solo com grãos, carnes, fibras, etc, que saem das fazendas e são levados para as cidades distantes ou para outros países, lembrado que o Brasil é um dos maiores exportadores mundiais de alimentos. Nessas condições, não há como repor os nutrientes exportados por meio da reciclagem com adubos orgânicos, daí a importância dos adubos minerais. Simplesmente não é possível alimentar a população mundial, concentrada em centros urbanos, sem os adubos minerais.
O fato de o Brasil ser um grande consumidor de adubos é uma consequência de ser um dos celeiros do mundo. Aliás, o consumo de adubos por unidade de área no Brasil é baixo em relação à maior parte dos países do hemisfério norte.
Os fertilizantes minerais são produzidos a partir de depósitos de minerais que ocorrem na natureza ou extraídos do ar que respiramos. Essas matérias primas são processadas na indústria para tornar os nutrientes apropriados para sua utilização pelas plantas e reduzir o custo de transporte a aplicação no campo. Mas, suas composições continuam sendo de moléculas naturais, e não artificiais.
Se extrairmos a solução de um solo (de onde as plantas retiram seus nutrientes) de uma floresta intocada pelo homem e separarmos os sais lá dissolvidos, vamos nos deparar com compostos químicos exatamente iguais aos que aparecem nos sacos de adubos minerais. Aliás, compostos como fosfatos de cálcio, cloreto de potássio, sulfato de zinco etc, componentes dos adubos, podem ser encontrados em suplementos adquiridos nas farmácias, recomendados para pessoas com deficiências nutricionais.
Fato é que fertilizantes são insumos essenciais para a produção de alimentos e matérias primas de origem agrícola. Obviamente, é essencial o manejo responsável, obedecendo as boas práticas agrícolas, que se aplicam a qualquer tipo de fertilizante.
Portanto, é importante que o público receba informação adequada para guiar escolhas e formar opiniões baseadas em fatos.
Heitor Cantarella
Pesquisador Científico há 42 anos, Ph.D em Fertilidade do Solo pela Iowa State Univ. (EUA); Diretor do Centro de Solos e Recursos Ambientais do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e Coordenador da Iniciativa Nutrientes para a Vida no Brasil.