Além de resgatar e resguardar o direito à assistência de qualidade, um dos objetivos é estabelecer um programa prioritário para que a Saúde seja tratada como política de Estado
Nesta segunda-feira, 27 de novembro, a Frente Democrática em Defesa do SUS reuniu-se para traçar estratégias para sua atuação em 2018. A meta é reforçar a mobilização de todas as forças sociais que lutam por investimentos adequados, fim da corrupção e gestão profissional da rede pública de saúde.
O encontro deu prosseguimento a um calendário iniciado em 16 de outubro, com um ato público na frente da Câmara Municipal de São Paulo, que denunciou a situação de calamidade em que se encontra o Sistema Único de Saúde.
“Os profissionais de Saúde e os usuários do sistema público estão realmente preocupados com os rumos do SUS. Hoje, parece que predomina certo desalento. Esse sentimento não pode nem deve se alastrar. Sentir-se desanimado momentaneamente não significa deixar de crer. Temos força. Se acreditarmos em nosso poder, seremos capazes de transformar a realidade. Estou convicto de que somos capazes, juntos, de construir um presente e um futuro melhores”, declarou José Luiz Gomes do Amaral, presidente da APM, que sediou a reunião.
De acordo com José Luiz, a Frente Democrática em Defesa do SUS se estrutura e cresce todos os dias com essa perspectiva: “A Associação Paulista de Medicina e as demais instituições que lutam por um sistema de saúde qualificado sabem que há um trabalho árduo à frente. Mas não se muda nada sem dedicação e obstinação. Atualmente, enfrentamos problemas difíceis, como o subfinanciamento, os erros de gestão e o congelamento dos recursos para a Saúde por 20 anos. Contudo, só existe um caminho para reverter tal quadro: empreender esforços continuamente para garantir a todos os brasileiros o direito à Saúde, inclusive
consagrado constitucionalmente”.
O grupo é formado e apoiado por dezenas de organizações, como associações médicas, conselhos profissionais de Saúde, sindicatos de todos os níveis e movimentos populares, entre outras representações da sociedade civil organizada. Planeja reunir, ainda no primeiro semestre de 2018, informações, por meio de ampla pesquisa com os profissionais e usuários, com vistas a formar uma pauta prioritária para a Saúde. A ideia é obter o comprometimento dos candidatos às eleições nacionais e estaduais, em todos os níveis, com essa pauta.
Ficou acertado ainda, que a Frente Democrática em Defesa do SUS deve manter-se aberta a adesões, consagrando seu caráter suprapartidário e plural. Em reunião de um grupo executivo, na quinta próxima 7 de dezembro, às 10h30, será alinhavado um cronograma que, a princípio, deve constar de reunião ampliada em fevereiro, protesto público em abril,apresentação de uma pesquisa inédita em coletiva em meados de junho, além da produção do programa prioritário para a saúde, a ser encaminhado a candidatos e autoridades.
Ao lado do presidente da APM, na mesa principal, estiveram o vereador e médico Gilberto Natalini, Renato Azevedo, pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), Edson Rogatti, presidente da Confederação das Santas Casas, Hospitais e Filantrópicas (CMB), o padre João Inácio Mildner, assessor da Pastoral da Saúde, Neide Biscuola, da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas (APCD), e Fabíola de Campos Braga Mattozinho, presidente do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP).
Panorama atual
O vereador Natalini tratou um pouco sobre a necessidade de união e mobilização neste momento urgente de defesa do direito à Saúde. Para ele, há uma organização a ser buscada para combater àqueles que influenciam negativamente. “Dessa forma, vemos que o SUS está sendo desqualificado, deixado de lado, com cada vez menos investimentos do Governo Federal. E há pessoas morrendo sem atendimento. Os médicos e demais profissionais da área têm força – temos que nos aliar para mudarmos o panorama.”
Representando os enfermeiros, Fabíola falou sobre o desânimo aparente que tomou conta dos que lutam por uma saúde de qualidade, e como a falta de estrutura das unidades públicas afeta diretamente o atendimento. “Quando um jornal estampa uma manchete em que diz que ‘falhas dos hospitais são a segunda maior causa de mortalidade’, a impressão que fica para a população é que os profissionais de Saúde é que estão errados. Nós precisamos conscientizar a todos sobre este cenário”, avaliou.
Florisval Meinão, diretor administrativo e ex-presidente da APM, seguiu essa linha ao afirmar que a questão de levar os problemas da Saúde à população é um dos patamares fundamentais desta mobilização da Frente Democrática em Defesa do SUS. Além disso, enxerga outro ponto importante: a integração das entidades profissionais para seguir com a luta.
“Do ponto de vista macro, precisamos ter uma noção clara do que está acontecendo. No último Governo, foi aprovada uma lei que permite a participação do capital estrangeiro no mercado brasileiro de saúde privada. Como isso, grandes grupos de investidores – com ações na bolsa dos Estados Unidos – estão adquirindo operadoras de planos de saúde e grandes hospitais. A saúde suplementar está crescendo e o SUS está ficando de lado. A nossa luta é pelo futuro da Saúde no Brasil, pois hoje estamos caminhando para um cenário no qual só quem tem dinheiro poderá pagar para ser atendido”, disse Azevedo.
Finalizando, a representante da APCD contou como está estruturado o cenário da saúde municipal em São Paulo. Conforme relatou, a saúde bucal está sendo retirada das obrigações de atendimento do poder público. “Os Conselhos estão discutindo um plano nacional de atenção básica – que engloba a saúde bucal – e não há indicadores odontológicos. Estão arrebentando o sistema de saúde por baixo.”