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Medicina é humanismo, amar gente


É evidente que a prática da medicina no Brasil atualmente fica cada vez mais difícil. Seja na rede pública ou privada, os problemas são recorrentes e parece faltar vontade política das autoridades de plantão para enfrentá-los e buscar solução.

Planos de saúde pressionam médicos a reduzir procedimentos e pedidos de exames muitas vezes essenciais à boa assistência. O Sistema Único de Saúde, perfeito, no papel, está à beira do caos. Carece de investimento, oferecendo aos cidadãos um cardápio de dificuldades: a espera por consultas só aumenta, há carência de leitos, de insumos básicos e de recursos humanos, entre outras.

O próprio ensino da medicina caminha na contramão do bom senso. A formação não visa a qualidade de vida das pessoas. Longe disso. Escolas médicas são abertas sem qualquer critério, sem a mínima base ao aprendizado.

Assim, pululam faculdades sem hospital-escola, de grade pedagógica medíocre e desprovidas de preceptores de bom nível. O resultado é uma enxurrada anual de novos “doutores” de mentirinha. Recentes avaliações com médicos saídos dessas escolas evidenciam que nós, os pacientes, corremos perigo.

O Exame do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP), já em sua 11ª edição, é um alerta sobre as distorções que aqui exponho. Em 2016, houve reprovação de 48% dos participantes. Ou seja, quase metade dos recém-formados não conta com a base mínima para passar na prova, que é bem rasa, aliás. Principalmente os que saem das instituições particulares, cujo percentual de inaptos chega a 58%.

Outro levantamento da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas com médicos e acadêmicos da região concluiu que 61% alegam que a faculdade não contribuiu em nada, ou de forma pífia, para atuação frente ao mercado de trabalho, em relação às operadoras de saúde.

A mesma declaração é utilizada referente à gestão e administração do negócio (57%) e do direito médico (30%). Ou seja, o profissional sai das escolas sem capacidade de lidar com os problemas da sociedade e com a rotina do ambiente de trabalho.

A maioria, não é exagero afirmar, serve no máximo para tratar de gripe e dor de barriga. Se tivermos algo mais complicado do que isso, é prudente escolher a dedo com quem se consultar.

Se todo o exposto já não fosse suficientemente trágico, existe também a perda da essência do “ser médico”. Em hospitais, clínicas e unidades de saúde, pacientes não têm mais nome. São chamados pelo número do quarto, a categoria do plano de saúde, a senha de espera, essa, aliás, interminável. O aperto de mão e a arte de ouvir, assim como o toque, morrem aos poucos, enquanto cresce o poder das indústrias de equipamentos sofisticados e medicamentos.

Nem precisaria escrever aqui, mas o faço só para deixar o preto no branco. A principal vítima de toda essa sandice e do jogo de interesses que estão transformando a medicina/saúde é o paciente.

Antes que tenhamos um desfecho catastrófico nessa história toda, convido você, caro leitor e cidadão do bem, a resistir, a denunciar e se mobilizar. Ou tomamos o destino da saúde em nossas mãos ou nos preparamos para o pior. Não, isso não!

Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica


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