Criado em 1986, o Dia Nacional de Combate ao Fumo, comemorado em 29 de agosto, serve para conscientizar a população sobre os perigos do tabagismo à saúde. E o primeiro benefício a quem para de fumar é a diminuição do risco de um acidente vascular cerebral. “É uma estimativa, mas depois de cinco anos sem fumar, o ex-fumante já tem risco de sofrer um AVC muito próximo de quem nunca fumou. Vale a pena parar de fumar pela prevenção da doença vascular cerebral a qualquer momento”, alerta a neurologista Gisele Sampaio Silva, vice-coordenadora do Departamento Científico de Doenças Cerebrovasculares, Neurologia Intervencionista e Terapia Intensiva em Neurologia da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).
Já para quem segue fumando, o tabagismo aumenta as chances de AVC de diferentes maneiras. “O cigarro é sabidamente um fator que contribui para a formação de placas de aterosclerose, sendo portanto causa frequente de AVC (cerca de 30%)”, explica a especialista. “A outra coisa que o cigarro faz é provocar o que a gente chama de hipercoagulabilidade, que é fazer com que o sangue coagule mais rápido, o que pode ser desencadeador de um evento trombótico que, por sua vez, causa AVC também”, prossegue. “E uma terceira maneira é que o cigarro parece alterar a fragilidade capilar do vaso e, se o fumante tem aneurismas intracranianos, o tabagismo se associa a um risco maior de ruptura desses aneurismas”, completa Gisele Silva.
Para ficarmos na área da neurologia, o cigarro também pode contribuir para as doenças de alteração cognitiva. “Hoje em dia entendemos que há uma interface muito grande entre as doenças vasculares e as degenerativas. Por exemplo, sabemos que boa parte das demências são mistas, como a doença de Alzheimer e a doença cerebrovascular juntas. Então, sendo um fator para a doença vascular do cérebro, o cigarro pode também ser um fator para alterações cognitivas”,
conta a neurologista.
Apesar de ter mais riscos em contrair doenças pulmonares, o fumante passivo também tem suas chances de AVC aumentadas.
Para Gisele Silva, o neurologista tem de ser treinado para encaminhar o fumante para os ambulatórios de prevenção. “Quem atende um paciente pós-AVC tem a obrigação de pesquisar todos os fatores de risco, entre eles o tabagismo, e de oferecer encaminhamento e tratamento para a cessação desse hábito. Isso tem de estar nas consultas e nas campanhas de conscientização. A orientação também tem de ser feita para o paciente internado com AVC, pois é a chance que você tem de educa-lo ativamente para que deixe esse hábito”, conclui a especialista.