Produzida pela bactéria Clostridium botulinum, a toxina botulínica é um composto intensamente venenoso. Encontrada em alimentos enlatados ou mal conservados, pode provocar botulismo, doença que causa dificuldades para engolir, falar, fraqueza e até paralisia.
Os estudos sobre essa substância se iniciaram em 1817, ano em que se descreveu, pela primeira vez, o envenenamento provocado por alimentos em estado de conservação impróprio. Apenas em 1895 descobriu-se que a intoxicação é provocada por um agente bacteriano. Em 1897, a ciência isolou o agente bacteriano já citado. Nos primeiros anos do século seguinte, o composto foi também isolado. No entanto, apenas seis décadas depois, o potencial medicinal para fins terapêuticos foi testado e aprovado, no tratamento do estrabismo.
Os estudos e as experiências foram se acumulando e o alívio de outras afecções e sintomas como as dores refratárias foram incluídas. “Esse alívio é proporcionado por sua ação inibidora da liberação de acetilcolina, que provoca relaxamento muscular, redução da sensibilidade à dor e diminuição da inflamação neurogênica. Então, a toxina tem efeito analgésico, anti-inflamatório e relaxante muscular”, informa o neurocirurgião José Oswaldo de Oliveira Jr, diretor financeiro da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED) e docente titular e diretor da Central da Dor e Estereotaxia do A.C. Camargo Cancer Center.
Dores relacionadas à contração muscular – como câimbras, dores miofasciais, espasmos da pálpebra e hemificial, lombalgia ou enxaqueca – podem ser reduzidas com aplicações dessa neurotoxina, promovendo efeitos positivos.
Entre as vantagens desse método está a temporalidade de seus efeitos. Caso ocorra alguma adversidade após sua utilização, como perda de sensibilidade, de função glandular ou muscular associada à inibição causada por essa neurotoxina, os resultados duram pouco tempo; normalmente, após cerca de seis meses, eles desaparecem.
Apesar de evidências científicas demostrarem os benefícios da aplicação em alguns casos, existem as indicações fora da bula, que estão sujeitas a pesquisas mais aprofundadas, com apenas resultados iniciais promissores, porém, não amplamente aceitos na comunidade médica.
Para tratamento das dores de cabeça, por exemplo, os Estados Unidos e Reino Unido aprovaram o uso, o que ainda não ocorreu no Brasil - embora o uso não seja proibido, requer mais levantamentos científicos, com dados concretos.
“Desde 2011 a ciência trabalha no estudo desta área. O composto já foi testado e aprovado no tratamento das dores relacionadas aos transtornos da articulação temporomandibular, e no alívio de outras dores de cabeça (como enxaqueca e cefaléia do tipo tensional). As chamadas dores neuropáticas, secundárias ao comprometimento de estruturas nervosas por doença ou lesão, também estão recebendo atenção especial com o uso experimental da toxina botulínica. Tudo indica que logo mais haverá uma progressiva liberação desse composto para outras indicações como é o caso de sua utilização no tratamento de da dor, de forma mais abrangente”, conclui.