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Biofortificação: o poder dos nutrientes na saúde humana


Com nutrientes em quantidade adequada prevenimos doenças, aumentamos a resistência física e obtemos vários outros benefícios

Estimativas mostram que a população mundial crescerá em um ritmo cada vez mais acelerado nas próximas décadas. Consequentemente, aumentará muito a demanda por alimentos. Além disso, quase um bilhão de pessoas ao redor do mundo não consomem alimentos em quantidades suficientes para suprir suas necessidades diárias de energia, e uma população muito maior, estimada em três bilhões de pessoas, sofre os efeitos da fome oculta, ocasionada pela deficiência de micronutrientes no organismo, por não terem condições de consumir uma dieta balanceada. Nesse sentido, a utilização correta de fertilizantes, para o aumento da fertilidade do solo e produtividade das culturas, é a garantia de segurança alimentar e uma estratégia sustentável para vencer o desafio da fome e da desnutrição, proporcionando fartura e qualidade de vida à população. Isso é particularmente relevante no cenário de mudanças climáticas que se avizinha, fato que, devido sua importância, foi tema central no Dia Mundial do Alimento - World Food Day -, celebrado recentemente, em 16 de outubro.

A introdução de produtos agrícolas biofortificados na dieta, além de complementar as intervenções em nutrição existentes, tais como a suplementação e a fortificação de alimentos, proporciona maior sustentabilidade e baixo custo para produtores e consumidores.

A biofortificação é uma prática importante utilizada para aumentar a concentração de minerais e vitaminas nos produtos agrícolas visando melhorar a dieta e a saúde humana e animal. No entanto, para obter produtos agrícolas mais nutritivos é necessário conciliar a biofortificação genética à biofortificação agronômica.

Dr. Luiz Roberto Guimarães Guilherme, engenheiro agrônomo, Ph.D. em Ciência do Solo, Professor Titular do Departamento de Ciência do Solo da Universidade Federal de Lavras e coordenador no Brasil, em parceria com a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), de um projeto internacional de biofortificação de alimentos, explica as duas etapas do processo.

“Primeiro, é necessário fazer a biofortificação genética. Entre as diversas plantas, podemos descobrir e selecionar aquelas com maior teor de nutrientes. Em alguns casos, existe limitação da capacidade dessas plantas de acumular esses elementos, pois eles não existem em grandes quantidades nos solos. Esse problema ocorre muito no Brasil. Então, é preciso adicionar nutrientes ao ambiente no qual as plantas estão crescendo, pelo processo da biofortificação agronômica. Os nutrientes podem ser adicionados ao solo ou pulverizados nas folhas. Os métodos também podem ser complementares”.

A biofortificação agronômica é realizada por meio da aplicação de adubos contendo nutrientes indispensáveis ao adequado desenvolvimento das plantas e/ou dos animais, como zinco, ferro, selênio e iodo. Essa prática tem sido bem utilizada para enriquecer alimentos demandados pela maior parte da população, os chamados alimentos básicos, como arroz, feijão, milho, mandioca, trigo, abóbora e batata-doce.

O objetivo é diminuir a desnutrição da população mais carente mediante o aumento dos teores de vitaminas e minerais na dieta e garantir que esses alimentos cheguem ao maior número de pessoas. No Brasil, o processo é coordenado por meio de programas globais, como o HarvestPlus e o HarverstZinc.

“O programa HarvestPlus iniciou o trabalho de biofortificação de alimentos há muito tempo, e tem como foco principal a biofortificação genética. Já o HarvestZinc - rede internacional de pesquisa sobre biofortificação com zinco, subordinada ao programa HarvestPlus -, investe na avaliação de estratégias agronômicas para enriquecimento das culturas básicas, que são fontes de alimentação de grande parte da população mundial, incluindo o Brasil. Em alguns locais, onde o índice de nutrientes é baixo nos solos, é preciso primeiro enriquecê-los para que as plantas também cresçam fortes, saudáveis e de forma sustentável”, explica Dr. Luiz Roberto.

O programa internacional HarvestZinc é composto de três fases, desenvolvidas em três anos, sendo que o Brasil se encontra na terceira fase. As duas primeiras fases, desenvolvidas sob coordenação do Instituto Agronômico de Campinas, compreenderam ações para aumentar o teor de zinco nas plantas. Na terceira fase, o projeto busca avaliar os efeitos do enriquecimento de alimentos com zinco e iodo, por meio de adubações via solo e pulverização da parte aérea das plantas.

No programa HarvestPlus desenvolvido no Brasil, além do foco nos alimentos básicos, demandados em maior quantidade pela população, o programa trabalha com o conceito de cesta de alimentos, promovendo uma alimentação diversificada. A biofortificação, junto a uma campanha de conscientização da população sobre a importância dos nutrientes para a saúde humana, faz parte de um longo processo de melhoria da qualidade de vida das pessoas.

“Tentamos conscientizar as pessoas sobre a importância que os alimentos biofortificados terão no futuro. Um aspecto fundamental nesse âmbito é a segurança alimentar. Ingerindo nutrientes em quantidade adequada, podemos prevenir doenças, aumentar a resistência física e diversos outros benefícios que cada um deles fornece ao ser humano. Há uma relação direta entre eles. É essencial que isso aconteça para que a fome e a desnutrição diminuam”, afirma Luiz Roberto.

Em relação ao futuro, a expectativa é de que as ações de biofortificação e conscientização sejam reconhecidas e valorizadas. “Isso deve incluir o reconhecimento e a valorização do agricultor, que faz esse tipo de ação. Deficiência nutricional é reconhecida como um problema sério. Pessoas nutridas adequadamente terão uma vida melhor e menos despesas com a saúde, entre outros benefícios”, concluiu Dr. Luiz Roberto.


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